Postado por Ane Caroline Ramires de Souza em 06/06/2025 12:25
Nas últimas décadas, a sociedade tem testemunhado uma transformação profunda em relação à forma como vivemos, nos comunicamos e cuidamos da saúde — especialmente a saúde mental. A correria do cotidiano, as pressões profissionais, as exigências sociais e o impacto das novas tecnologias têm moldado uma nova realidade: mais conectada, mais acelerada e, muitas vezes, mais solitária.
Nesse contexto, a psicoterapia também precisou se reinventar. O tradicional encontro presencial entre paciente e terapeuta cedeu espaço, cada vez mais, para o atendimento remoto — seja por vídeo, telefone ou outras plataformas digitais. A chamada psicoterapia à distância já não é mais apenas uma alternativa emergencial, como foi durante a pandemia da COVID-19. Hoje, ela se consolida como um recurso legítimo, eficaz e necessário para promover o cuidado emocional.
"Atravessar a distância" na psicoterapia não se refere apenas ao espaço físico entre paciente e terapeuta, mas também às distâncias emocionais, culturais e subjetivas que fazem parte de qualquer processo analítico. A tela que separa terapeuta e paciente impõe desafios, mas também oferece novas possibilidades.
Com a mediação tecnológica, é possível manter o vínculo terapêutico mesmo em cenários de mudança, como viagens, mudanças de cidade ou rotina intensa. Isso garante continuidade no processo terapêutico e maior acessibilidade para quem antes não podia se comprometer com sessões presenciais, seja por limitação geográfica, física ou de tempo.
Vivemos em uma era marcada por excesso de informação, múltiplas tarefas e cobranças constantes de produtividade. O risco? A desconexão de si mesmo. Ansiedade, depressão, esgotamento emocional e sensação de vazio são sintomas cada vez mais comuns.
A psicoterapia online surge, nesse cenário, como uma forma de se adaptar às exigências do presente sem abandonar o compromisso com o cuidado psíquico. Ela permite que o sujeito integre o cuidado emocional à sua rotina, sem precisar deslocar-se fisicamente ou alterar radicalmente sua agenda.
Além disso, muitas pessoas se sentem mais à vontade para iniciar um processo terapêutico no ambiente seguro de sua casa, favorecendo a abertura emocional, o acolhimento e a elaboração de conteúdos difíceis.
A saúde mental deixou de ser tabu para tornar-se um dos pilares da qualidade de vida. Hoje, sabemos que ela não se resume à ausência de transtornos psíquicos, mas sim à capacidade de lidar com as emoções, manter relações saudáveis, trabalhar com prazer e encontrar sentido na existência.
No entanto, manter esse equilíbrio é um desafio constante — especialmente em um mundo que frequentemente valoriza o desempenho acima do bem-estar.
A psicoterapia, seja presencial ou remota, oferece um espaço protegido para que o sujeito possa falar, refletir, elaborar e ressignificar suas experiências. É um convite ao autoconhecimento, à escuta de si mesmo e à construção de uma vida mais autêntica.
a análise é o espaço onde o sujeito pode escutar aquilo que diz sem saber que disse, e nesse movimento, encontrar-se com seu próprio desejo
A análise que atravessa a distância é, na verdade, um símbolo dos tempos em que vivemos: um tempo em que precisamos aprender a cuidar da mente com a mesma atenção que damos ao corpo e às demandas externas.
A psicoterapia online não substitui o olhar atento do terapeuta nem desumaniza o processo terapêutico. Ao contrário, ela amplia o alcance do cuidado psíquico, ajustando-se ao ritmo da vida moderna e contribuindo para o equilíbrio tão necessário em tempos de excesso.
Buscar ajuda não é sinal de fraqueza, mas de coragem. E, felizmente, nunca foi tão possível — mesmo à distância.
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Ane Caroline R. Souza
Psicóloga Clínica - CRP 06/169630
