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A JORNADA DO LUTO

Postado por Lucas Nathan Almeida em 06/07/2024 00:21


Postado por Lucas Nathan Almeida

Lidar com o processo de luto é uma experiência emocionalmente desafiadora e única para cada pessoa. A perda de alguém ou algo significativo traz uma dor profunda que, muitas vezes, nos deixa sem saber como seguir em frente. Recordo-me de um paciente que, após perder sua avó, me confidenciou que sentia uma mistura de tristeza e alívio, como se estivesse desamparado em um barco à deriva. Esse processo de luto envolve uma série de etapas e reações que precisam ser respeitadas. Buscar apoio durante esse período é essencial para passar por essa jornada de maneira saudável. A terapia oferece um espaço seguro para explorar emoções, entender o que está acontecendo internamente e desenvolver ferramentas para lidar com a dor.

O que é o luto?

O luto é a resposta emocional diante da perda de algo ou alguém importante. Ele pode ocorrer após a morte de um ente querido, o fim de um relacionamento ou até a perda de um emprego. Embora muitas pessoas associem o luto à tristeza, ele pode envolver uma gama de emoções, como raiva, culpa, confusão e, em alguns casos, alívio. Lembro-me de uma paciente que, após a separação, sentiu-se culpada por experimentar alívio. Isso é mais comum do que se imagina.

Cada um vive o luto de forma diferente. Não há um jeito "correto" de sofrer uma perda. A psicologia entende o luto como um processo natural da experiência humana, mas, em alguns casos, o sofrimento pode se prolongar, gerando uma dor persistente e um sentimento de estagnação emocional. É nesses momentos que o acompanhamento terapêutico pode fazer uma diferença significativa.

As fases do luto

Elizabeth Kübler-Ross, psiquiatra pioneira no estudo da morte e do luto, propôs um modelo que divide o luto em cinco fases: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Embora esse modelo seja amplamente conhecido, não é uma regra rígida. Cada pessoa pode passar por essas fases de maneira não linear ou até mesmo não vivenciar todas elas. A compreensão dessas fases ajuda a identificar e reconhecer os sentimentos que surgem durante o luto.

  • Negação: A pessoa pode ter dificuldade em acreditar que a perda aconteceu, usando essa fase como um mecanismo de defesa temporário. Um paciente, ao perder um amigo, disse-me que não conseguia aceitar a realidade, como se estivesse em um pesadelo.

  • Raiva: À medida que o sofrimento se intensifica, ele pode se manifestar em forma de raiva. Uma vez, uma paciente expressou sua revolta contra os médicos que não conseguiram salvar seu pai, sentindo que a dor era injusta.

  • Barganha: Nessa fase, a pessoa tenta "negociar" com a situação, buscando maneiras de suavizar a perda. Pode haver pensamentos como "e se eu tivesse feito algo diferente?" Uma paciente me contou que, após perder seu emprego, se pegou pensando em como poderia ter se saído melhor nas entrevistas.

  • Depressão: Quando a realidade da perda é internalizada, o sentimento de tristeza profunda pode se instalar. Essa fase é marcada por uma sensação de vazio e melancolia. Um cliente que passou por um divórcio relatou dias inteiros em que não conseguia sair da cama.

  • Aceitação: A aceitação não significa estar "bem" com a perda, mas reconhecer a realidade e começar a encontrar formas de seguir em frente. Lembro-me de um paciente que, após muito sofrimento, começou a ver como poderia honrar a memória do ente querido, ajudando-o a encontrar um novo propósito.

Essas fases não seguem uma ordem exata, e é comum que as pessoas revisitem sentimentos de fases já vividas ao longo do tempo. A terapia é um espaço para compreender essas emoções sem julgamento, permitindo que cada um processe de forma saudável.

Como a terapia pode ajudar no processo de luto?

A terapia é um recurso fundamental para quem está passando pelo luto, oferecendo um ambiente acolhedor. Muitas vezes, quem está sofrendo se sente isolado ou pressionado a "superar" a dor rapidamente. Em uma sessão, um cliente compartilhou que se sentia como se todos esperassem que ele voltasse a ser quem era antes, mas a terapia permitiu que ele explorasse suas emoções no seu próprio ritmo, sem pressa, e ofereceu estratégias construtivas para lidar com a dor.

  • Validação das emoções: O terapeuta ajuda a pessoa a entender que suas emoções são válidas. Um cliente me disse que se sentia culpado por sentir alegria em momentos da vida, mas é fundamental lembrar que sentir é parte do processo de cura.

  • Estratégias de enfrentamento: Durante o luto, pode ser desafiador lidar com o dia a dia. A terapia ensina ferramentas práticas, como técnicas de regulação emocional, que ajudam a enfrentar momentos difíceis. Uma cliente aprendeu a usar a respiração profunda como uma maneira de lidar com a ansiedade que surgia ao lembrar de sua perda.

  • Explorar o significado da perda: O processo terapêutico permite refletir sobre o significado da perda. Um paciente me contou como entender o legado de sua avó o ajudou a ressignificar a dor.

  • Reajustar a rotina e a vida: A perda traz mudanças drásticas na rotina. Um processo terapêutico eficaz auxilia a pessoa a reestruturar sua vida e encontrar novos propósitos.

O tempo do luto

Um dos grandes equívocos sobre o luto é acreditar que ele tem um tempo determinado para acabar. Embora as pessoas ao redor possam esperar que o enlutado "siga em frente", o luto não segue uma linha do tempo rígida. Alguns podem começar a se sentir melhor após alguns meses, enquanto outros podem precisar de mais tempo. Entender que o luto não é uma corrida alivia a pressão de "superar" rapidamente.

Luto e isolamento

O isolamento é uma reação comum durante o luto. Muitas vezes, as pessoas se retraem socialmente, sentindo que ninguém as compreende. No entanto, o isolamento prolongado intensifica sentimentos de solidão. O terapeuta pode ajudar a pessoa a encontrar formas de se reconectar, mesmo que em pequenos passos. Um cliente compartilhou que, após perder um irmão, achava difícil se reunir com amigos, mas, aos poucos, foi encontrando conforto em pequenas interações.

Cultivando a memória e lidando com a saudade

O luto não significa apagar a memória da pessoa que se foi, mas aprender a viver com a saudade de forma saudável. Encontrar maneiras de honrar a memória, como rituais ou conversas sobre a pessoa, é uma parte importante do processo de cura. A terapia pode ajudar o enlutado a cultivar essas memórias de forma positiva, sem que a dor se torne paralisante.

Um caminho de acolhimento e cura

Lidar com o luto é um dos maiores desafios emocionais da vida, mas é possível atravessá-lo com acolhimento e cuidado. A terapia oferece um espaço de apoio, permitindo que o enlutado viva suas emoções, compreenda o que está acontecendo internamente e desenvolva maneiras de seguir em frente, sem esquecer o que foi perdido. Se você está passando por esse processo, lembre-se de que não precisa fazer isso sozinho. Buscar ajuda profissional pode ser o primeiro passo para encontrar uma maneira de viver com a perda, honrar a memória do que se foi e, aos poucos, redescobrir a força e a esperança para continuar.






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